A história das coisas - por Annie Leonard

Este vídeo mostra os problemas sociais e ambientais criados como consequência do nosso hábito consumista, apresenta os problemas deste sistema e mostra como podemos revertê-lo, porque não foi sempre assim.

Apresentação: Annie Leonard
Dublagem: Nina Garcia



Veja a entrevista que Annie Leonard deu para a revista Vida Simples:

Entrevista
Annie Leonard: ativista da internet

A ambientalista lança vídeos na rede para alertar que o sistema de produção mundial está em crise

Marcia Bindo
Revista Vida Simples – 01/2010


Em um vídeo bem caseiro e com a ajuda de desenhos de traços nada sofisticados, a norte-americana Annie Leonard mostra o resultado de mais de dez anos de pesquisas sobre o sistema de produção e descarte de produtos no mundo. Em certo ponto, faz a seguinte pergunta: “Você consegue adivinhar a quantidade de materiais produzidos que ainda estão em uso seis meses depois de serem vendidos na América do Norte?” E manda a resposta: 1%. Ou seja, 99% dos materiais que são colhidos, processados e transformados em produtos são descartados em apenas meio ano.

Esse é apenas um entre vários dados chocantes que a ambientalista mostra no vídeo A História das Coisas, lançado de graça na internet em dezembro de 2007. Annie visitou cerca de 40 países para investigar o que acontece nas fábricas e nos lixões pelo mundo. A repercussão foi tão boa que ela lança agora um vídeo sobre soluções climáticas e durante 2010 está previsto ainda um vídeo sobre a história da água engarrafada e da produção de eletrônicos e outro sobre a indústria de cosméticos. A ideia é aprofundar alguns temas abordados em A História das Coisas – que também vai ganhar uma versão em livro.

[Vida Simples]Quando você começou a se dedicar às causas ambientais?
[Annie Leonard] Nasci em Seattle, nos Estados Unidos, e minha família costumava viajar para acampar todo verão. Eu ficava hipnotizada olhando a paisagem pela janela do carro. Mas a cada ano percebia que as árvores iam desaparecendo do cenário. Por amor à natureza, decidi fazer faculdade de meio ambiente em Nova York. Toda manhã, a caminho da escola, reparava nas pilhas de lixo acumuladas no meio-fio. Quando voltava para casa, as calçadas estavam vazias.

Fiquei intrigada com esse fluxo de lixo e comecei a olhar o que havia dentro dessas pilhas intermináveis. A maioria do lixo era papel. É para ali que iam parar minhas amadas florestas! Nos Estados Unidos, 42% da madeira retirada é usada para fazer papel. E 40% do lixo das ruas é papel. Ou seja, poderíamos reduzir em 40% o nosso lixo se o papel fosse reciclado e reduziríamos a necessidade de cortar árvores.

[VS] O que te inspirou a fazer A História das Coisas?
[AL] Depois que eu percebi que quase metade do lixo das ruas de Nova York um dia foi floresta, resolvi descobrir aonde ia parar esse material. Viajei para Fresh Kills, um dos maiores depósitos de lixo do mundo, com 12 km². Eu nunca tinha visto nada igual. O que eu via, por todos os lados, eram geladeiras, caixas, computadores, roupas usadas – coisas. Eu não conseguia entender como criamos um sistema baseado na destruição dos recursos naturais e na geração de lixo. Decidi pesquisar mais a fundo. Trabalhei para organizações ambientais e numa campanha para fazer com que as nações ricas parassem de exportar lixo para os países pobres. Nesse tempo, viajei pelo mundo, visitando fábricas onde os produtos são produzidos e lixões onde eles são depositados. Visitei comunidades que perderam seus suprimentos de água e sua saúde por causa da poluição das indústrias. Percebi que o consumismo, principalmente nos Estados Unidos, era o culpado por tantos problemas.

[VS] E a ideia do filme?
[AL] Decidi dividir com as pessoas as informações que coletei e inspirá-las a fazer mudanças positivas em seus hábitos de consumo. Comecei a dar palestras em escolas e conferências pelo mundo, mas a ironia é que eu tinha que viajar muito de avião, perdendo tempo me transportando para lá e para cá, em vez de ficar com minha filha. Daí a ideia de fazer vídeos, que têm maior alcance. O vídeo de 20 minutos bombou na internet em 2007 e, de lá para cá, já foi visto por mais de 7 milhões de vezes em mais de 200 países.

[VS] Qual o item verde mais importante que podemos trazer para a nossa casa?
[AL] Há muitas evidências de que, quanto mais TV a gente assiste e quanto mais a gente se compara com vizinhos e amigos consumistas, menos adequados nos sentimos com as coisas que temos. É um padrão destrutivo de comparação, mas todos nós o temos em algum nível. Então, o produto mais verde que podemos trazer para dentro de casa é uma medida interna de satisfação. Conseguir avaliar nossos produtos com um senso de suficiência, em vez do último comercial que assistimos. É bom lembrar que muitas pessoas no mundo ainda precisam consumir mais. Metade da população do globo vive com menos de 2,50 dólares.

Para eles, mais coisas – mais comida, roupas, remédios – tornaria a vida muito melhor. Mas não é o caso da parcela do globo que já tem suas necessidades básicas supridas e acredita que mais produtos a farão mais feliz, mais atraente, melhor. Comprar menos e coisas de segunda mão é uma atitude que poupa o planeta – e o nosso dinheiro.

[VS] O que você faz para preservar o planeta?
[AL] Quando preciso de algo, a primeira coisa em que penso é pegar emprestado. A segunda opção é comprar objetos usados. Eu divido tudo com meus vizinhos – de carros a apetrechos de jardinagem. O bom é que dividir faz com que eu converse mais com eles. Nos últimos anos, meus amigos mais chegados e eu compramos nossa casa no mesmo quarteirão, em Berkeley (Califórnia). Nós derrubamos as cercas e dividimos o mesmo quintal, onde jantamos juntos no verão. A casa é simples, mas vivo com minha filha de 10 anos uma vida rica por causa do sentimento de comunidade que criamos. Instalei painéis solares em casa, que fornece 150% da energia de que preciso. Em vez de gastar energia para acumular mais produtos, que tal acumular mais amigos, hobbies e momentos de lazer?

[VS] Qual o maior mito sobre os problemas ambientais?
[AL] De que os desafios que o planeta tem hoje podem ser driblados com mudanças individuais de estilo de vida. Sim, é claro que ajuda poupar energia em casa, andar de bicicleta, em vez de carro, e ter uma sacola de pano para carregar as compras – eu acabei de dar exemplos do que faço em casa. Mas, mesmo se a gente convencesse cada pessoa no mundo a ter atitudes ambientalmente mais responsáveis, isso não seria suficiente. Temos que nos envolver com organizações engajadas em mudar as leis. Por exemplo, em vez de gastar horas elaborando minha lista de compras com produtos que não têm toxinas, por que não banir esses produtos do mercado? Mudar nossos hábitos de consumo não basta. Temos que mudar as regras do sistema.

Fontes: UOL Educação, Vida Simples