Evento que desencadeou era glacial retratado em filme pode ter acontecido, de acordo com estudo

No filme, 'O Dia Depois de Amanhã' ('The Day After Tomorrow', em inglês), lançado em 2004, o mundo fica preso no gelo em poucas semanas quando a Terra sofre alterações climáticas que provocam uma nova era glacial. Uma nova pesquisa, realizada por cientistas americanos e canadenses, sugere que um evento semelhante ao retratado no filme de Roland Emmerich poderia de fato ter ocorrido no passado, confirmando a teoria de que estaríamos nas vésperas de uma nova Era Glacial. As informações são do site científico Live Science.

Segundo os cientistas, a teoria mais aceita diz que em média o planeta experimenta 10 mil anos de era quente a cada 90 mil anos de era glacial. As últimas ocorreram entre 150 mil e 2 milhões de anos atrás. Os pesquisadores acreditam que, se as mudanças climáticas continuarem provocando os atuais níveis de derretimento na Groenlândia, são fortes os indícios de que o congelamento registrado em 'O Dia Depois de Amanhã' volte a se repetir.

De acordo com o estudo, evidências geológicas indicam que um grande resfriamento no Hemisfério Norte, com duração de cerca de 1,3 mil anos, teve início há aproximadamente 12,8 mil anos. O fenômeno, batizado de "Big Freeze" ("Grande Congelação", na tradução livre do inglês), foi interposto por uma grande elevação de água doce no mundo - um volume maior do que todos os maiores lagos da América do Norte juntos -, que invadiu os oceanos Atlântico e o Ártico.

Esse influxo abrupto de água, provocado quando o lago Agassiz na América do Norte transbordou, misturado à circulação de água quente no Atlãntico Norte, fez com que as temperaturas em todo o Hemisfério Norte despencassem significativamente.

Sem tempo para reagir

A partir de amostras de gelo retiradas da Groenlândia, os cientistas encontraram indícios de que essa mudança brusca no clima pode ter acontecido surpreendentemente ao longo de alguns meses ou até centenas de anos.
Esse sistema climático pode ligar e desligar rapidamente que é extremamente importante. Uma vez que o ponto de inflexão é atingido, não haveria nenhuma oportunidade para o ser humano reagir
disse o pesquisador Henry Mullins, da Universidade de Syracuse, em Nova York (Estados Unidos), que não participou da pesquisa.

Por dois anos, o engenheiro geoquímico William Patterson, da Universidade de Saskatchewan, no Canadá, e seus colegas, investigaram um tubo de barro retirado do antigo lago Lough Monreach, na Irlanda. Em cada camada do sedimento, que foi se depositando lentamente ao longo do tempo, os pesquisadores conseguem mapear pistas importantes na história do clima.
Basicamente, me movimento em torno da Irlanda ocidental procurando as condições adequadas - de rochas, vegetação e lagos - para obter os registros climáticos mais completos do passado
explicou Patterson.

Os detalhes

Ao analisarem os isótopos de carbono e oxigênio contidos em cada porção do sedimento, os cientistas foram capazes de mapear a temperatura antiga da região.

No início da "Grande Congelação" recente, a equipe canadense descobriu que as temperaturas e a produtividade do lago caíram ao longo de poucos anos.

Os resultados do estudo indicam também que o clima da região e o lago podem ter levado entre 100 e 200 anos para se recuperar.
Seria como pegar a Irlanda hoje e deslocá-la para cima do Círculo Ártico, criando condições para o gelo se desenvolver em um período muito curto de tempo (...) Isso faz sentido porque leva tempo para os oceanos e a circulação atmosférica entrar em sintonia novamente
disse Patterson.

Futuro frio

Olhando para o futuro, Patterson disse que não existem razões para garantir que um novo congelamento terrestre não ocorrerá novamente.
Se o gelo da Groenlândia derreter de repente, seria catastrófico. Podemos dizer que o aquecimento pode levar a um esfriamento dramático. Isso deve servir como um alerta mais do que nunca (...) Não temos objetivo político nem contra ou a favor do aquecimento. Nosso objetivo é apenas entender o clima
concluiu o cientista canadense.

Os resultados do estudo foram detalhados em uma conferência da Fundação Europeia de Ciência, realizada em Rovaniemi, na Finlândia.

Fonte: Terra