Biólogos decifram canção de amor do mosquito da dengue

O que para humanos é um zumbido irritante, para mosquitos é uma canção de amor. Pesquisadores nos EUA descobriram que, antes do sexo, um casal de mosquitos Aedes aegypti -transmissores da dengue - ajusta o batimento das asas para produzir um zumbido na mesma frequência sonora.

Os biólogos descobriram que, quando sozinha, a fêmea "zumbe" batendo asas na frequência de cerca de 400 Hz (hertz, ou vibrações por segundo) e o macho voa a 600 Hz. Aproximadamente, é como se fosse uma nota sol e outra ré, na região central do piano.

Mosquitos se amando, porém, são mais irritantes, pois macho e fêmea adotam uma frequência mais aguda --um "harmônico", como é conhecido entre os músicos. E o dueto do casal é "cantado" a 1.200 Hz, a próxima nota ré à direita, seguindo a escala do piano.

"A sinalização acústica evoluiu muitas vezes entre insetos, como gafanhotos, grilos e muitos outros como um modo de facilitar o acasalamento. Em muitos insetos, a função de sinalização deriva do bater das asas, adaptada secundariamente para isso", diz o líder da pesquisa, Ronald Hoy, da Universidade Cornell, de Ithaca, Nova York. "Na nossa hipótese, a convergência harmônica é o resultado da seleção sexual darwinista."

"O segredo é que a interação não se dá na frequência fundamental, mas em harmônicos mais altos, e em frequências que se achava estarem além da sensibilidade dos mosquitos", diz Hoy.

Outra bióloga, Lauren Castor, montou o experimento. "Primeiro, eu fazia os mosquitos ficarem lentos esfriando-os com gelo, e então usava Superbonder para colar o mosquito na parte rombuda de um alfinete de inseto", contou. "Depois de colados, eles eram colocados em um micromanipulador, que eu usava para mover os mosquitos dentro e fora dos seus campos auditivos [distância a que conseguem se ouvir]."

Os cientistas descobriram que os mosquitos ouvem sons de até 2.000 Hz, bem mais do que se imaginava. Para isso, espetaram eletrodos com apenas um micrômetro de diâmetro na base das antenas do animal para medir impulsos nervosos.

A descoberta pode ser aplicada agora no desenvolvimento de técnicas para controle de pragas. Um método comum é o lançamento de machos estéreis que copulam com as fêmeas e impedem que sejam fecundadas pelos machos naturais e férteis. Sabendo as frequências dos zumbidos, é possível criar um teste de aptidão para esses machos, pois o batimento das asas na frequência certa indicaria que eles podem atrair fêmeas.

Fonte: Folha Online